É tudo "world class"

Escrito por Fábio Zanini

JOHANNESBURGO (ÁFRICA DO SUL) – África do Sul e Brasil têm muito em comum. Sediarão, como todos sabemos, as Copas do Mundo de 2010 e 2014. Têm índices enormes de desigualdade social. São formados a partir de diversas raças. Suas belezas naturais são indescritíveis, assim como seus índices de violência urbana.E sofrem do que Nelson Rodrigues um dia chamou de “complexo de vira-lata”. Um provincianismo e uma vontade de agradar e ser aceito pelos ricos que é evidente. Sempre achei exagerada a importância que no Brasil se dá à opinião da imprensa estrangeira, por exemplo. Não há nada que faça Lula sorrir mais aberto do que um elogio do “Financial Times”.
Por aqui, dia sim outro também ouço da boca do comitê organizador da Copa uma expressão para definir seus estádios, estradas e aeroportos: “world class”. De classe mundial, numa tradução livre, ou seja, que poderiam muito bem estar em Nova York, Londres ou Paris.
Ontem, em sua enésima coletiva, o arroz de festa Danny Jordaan, diretor-executivo do comitê organizador, repetiu que o estádio de Cidade do Cabo é “world class”. O aeroporto de Johannesburgo é “world class”. O Gautrain, trem de alta velocidade que será inaugurado alguns dias antes do início do torneio, é “world class”. O gramado do estádio de Nelspruit (que aliás ainda não está pronto) é “world class”.
Saindo de lá, por uma das pistas expressas que definem esta metrópole, banners colocados em postes diziam “Johannesburg, a world class host city” (Johannesburgo, uma cidade-anfitriã de classe mundial). Já deu para sacar qual o equivalente em português? Fácil. Aqui, temos o “de primeiro mundo”. A obra xis é “de primeiro mundo”. O prédio y é “de primeiro mundo”. O subtexto óbvio é que pelo menos ali, numa ilha de concreto e design futurista, não passamos vergonha.
Pode esperar, nos próximos anos, Ricardo Teixeira e autoridades federais (do PT ou do PSDB, não importa) dizendo que tal ou qual projeto para a Copa ou a Olimpíada de 2016 são “de primeiro mundo”.
Eu preferia que os responsáveis pela organização usassem expressões menos reveladoras do complexo rodriguiano. Digam que o estádio é “ótimo”, “inovador”, “moderno”.
Ou até mesmo que é “jóia”, “do balacobaco”. Fica mais bonito.

Fonte:penaafrica.folha.blog.uol.com.br

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