A Las Vegas africana

Escrito por Fábio Zanini

SUN CITY (ÁFRICA DO SUL) – A duas horas de carro de Johannesburgo, Sun City é geralmente chamada de a Las Vegas africana. São cassinos, hotéis gigantescos, shopping centers, restaurantes e muita breguice. Imagine um lobby de hotel com carpete vermelho, o teto pintado com cenas de floresta, uma cachoeira artificial e alto-falantes emitindo sons de pássaros e leões rugindo. É Sun City. É um lugar com uma história pesada também. Durante o apartheid, era um playground apenas para brancos. Negros lá, só varrendo o chão. Sun City tornou-se um dos símbolos culturais mais marcantes do odioso regime racista. A tal ponto que nos anos 80, auge da condenação internacional ao apartheid, acabou sendo alvo de um grupo de pop stars da música num videoclipe pedindo democracia racial. Uma espécie de primo pobre de “We are the World”, digamos assim.
Estive lá essa semana para um evento da Fifa, um workshop com os técnicos das seleções que participam da Copa do Mundo. Sim, porque o apartheid caiu, mas Sun City se vingou dos que a difamaram. Hoje resiste como um local respeitável da indústria de turismo sul-africana.
Tem, além dos cassinos, piscina com ondas, área para safári, cinemas, criadouro de crocodilos e tudo para um feriadão familiar. Os hotéis são totalmente retrô anos 70, década em que o lugar foi fundado pelo magnata Sol Kerzner. Alguns parecem cópias estilizadas de pirâmides astecas, com horríveis paredes em cor dourada.Mas quem se importa? Eu mesmo, após uma reação inicial negativa, entrei no clima e comecei a achar tudo aquilo muito engraçado.
É uma brincadeira cara. O hotel mais barato do complexo custa US$ 300 a diária. Sem internet no quarto e com a luz e a TV falhando o tempo todo, aliás. O mais luxuoso, o tal do Palace (famoso porque foi o único seis estrelas do mundo durante muito tempo), tem diária perto de US$ 1.000. Babuínos passeiam pelos jardins, e às vezes arrombam quartos atrás de comida.
Os brancos ainda são maioria entre os hóspedes, mas a nova classe média negra adora passar um fim de semana em Sun City. Há também muitos asiáticos (sobretudo indianos e chineses) em busca de alguns dias de diversão descompromissada. Sinal de que Sun City continua sendo um símbolo, mas agora de um país em mudança.
Fonte:penaafrica.folha.blog.uol.com.br

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