El Tanque: fundo do poço argentino

EDUARDO VIEIRA DA COSTA
Editor de Esporte da Folha Online

O fundo do poço do futebol argentino é realmente muito fundo. Além da possibilidade de a seleção do "técnico" Maradona ficar fora da Copa-2010, da dívida enorme dos clubes, da má fase dos maiores times do país e de um início de Torneio Apertura com uma classificação maluca, o campeonato nacional ainda tem como artilheiro ninguém menos que Santiago Silva.
O glorioso Santiago Silva é aquele uruguaio que tinha (ou tem) o apelido de El Tanque. Ele teve passagem marcante pelo Corinthians em 2002. Cravou seu nome na história como um dos piores jogadores que já vestiram a camisa do clube.
Na época da contratação pelo Corinthians ele até chegou com moral, talvez pelo apelido curioso e por ter saído diretamente da Itália (Chievo) para o Brasil. O técnico Carlos Alberto Parreira colocou o então jovem de 21 anos em campo umas três ou quatro vezes.
Lento como um pesado veículo de guerra, o que muito provavelmente foi a verdadeira inspiração do criador de sua alcunha, El Tanque conseguiu, apesar dos poucos minutos jogados, perder uma quantidade considerável de gols. E foi tudo o que produziu.
No atual Apertura do Argentino, porém, o uruguaio já marcou sete gols em oito jogos. Seu time, o pequeno Banfield, divide a liderança com o Estudiantes --o rival de La Plata joga nesta sexta e pode se isolar.
Esse é um retrato do atual futebol argentino. O Banfield, com Santiago "El Tanque" Silva como principal destaque, é a sensação do campeonato nacional. Boca Juniors e River Plate aparecem na metade de baixo da tabela.
O campeonato chegou a ter seu início adiado devido à imensa dívida dos clubes com o fisco e, principalmente, com os atletas. Somada, a dívida salarial com os jogadores batia na casa de R$ 20 milhões. Ao governo, os times devem cerca R$ 335 milhões.
Foi necessário o governo da presidente Cristina Kirchner comprar os direitos de transmissão dos jogos do torneio por R$ 287,5 milhões por ano, em um contrato de dez anos, para resolver parcialmente o problema.
A verba foi repassada aos clubes e o problema foi temporariamente sanado. Mas, como não é difícil imaginar, a manobra foi duramente criticada, principalmente pelos opositores de Cristina. E, no final das contas, a solução é apenas um paliativo, já que lá, assim como aqui, o problema é má gestão dos times.
Para completar, Maradona está completamente perdido no comando da seleção, já convocou uma quantidade enorme de jogadores e não conseguiu achar um time. Corre risco sério de não levar o país à Copa, o que só aumentaria a crise do futebol argentino.
A coisa está mesmo feia.
E eles ainda têm que engolir o Santiago Silva como artilheiro. Que fase.

A página de Santiago Silva na versão em espanhol da enciclopédia colaborativa virtual Wikipedia diz no texto sobre sua carreira que, no Torneio Clausura de 2008, o uruguaio, jogando pelo Velez Sarsfield, foi o principal goleador de seu time, com sete tentos. Mas, logo em seguida, ressalta: "Não obstante, três dos sete gols foram acidentais, já que foram bolas que rebateram no corpo do uruguaio". Sensacional.

O Banfield jamais foi campeão da primeira divisão argentina, mas é o maior campeão da segundona na história, com nove títulos. Foi vice-campeão da elite em 1951 e 2005.

O maior rival histórico do Banfield é o Lanús, time com o qual faz o jogo conhecido como "clássico do sul". As cidades de Lanús e de Lomas de Zamora, onde fica o Banfield, ficam na região sul da Grande Buenos Aires. No atual Apertura, o clássico do sul já foi disputado, no dia 13 de setembro, em Lanús, e teve vitória do Banfield, de virada, por 2 a 1. Os dois gols foram dele, El tanque, Santiago Silva.

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