

O vinho é uma daquelas invenções que desafiam a contagem do tempo, desafio qualquer lógica da memória. Assim como outras invenções, como a roda, não é possível dizer com precisão quando um despretensioso cacho de uvas tornou-se um vinho. Mas o vinho está em toda a parte, desde onde se é possível ter relatos. E não se importa o tipo de relato. Na Bíblia, livro santo para os cristãos, o vinho é fartamente citado, símbolo da graça divina ao ser multiplicado por Jesus. Já na cultura grega, o vinho está associada a figura mítica de Dionísio, aos ciclos vitais, as festas. Um dos muitos significados do Festival de Dionísio em Atenas versa sobre um grande dilúvio provocado por Zeus (Jupter) e do qual apenas um casal teria sobrevivido. Seus filhos eram: Orestheus, que teria plantado a primeira vinha; Amphictyon, de quem Dionísio era amigo e ensinou sobre vinho; e Helena, a primogênita, de cujo que nome a outra denominação da cultura grega.
Passados os gregos, o vinho seguiu a sua trajetória, da antiguidade passando para o mundo medieval e deste para a modernidade. Quem se lembra dos tempos de Ensino Médio recorda, por exemplo, do famoso "Tratado de Methuen", também conhecido como Tratado dos Panos e Vinhos, assinado entre a Grã-Bretanha e Portugal, em 27 de janeiro de 1703. Segundo esse Tratado, os portugueses se comprometiam a consumir os têxteis britânicos e estes, em contrapartida, consumiriam os vinhos portugueses. Não era um acordo exatamente justo, especialmente para os lusitanos, mas os britânicos não se queixaram muito de ter pleno acesso à bebida produzida em solo ibérico.
Para as sociedades que cultivam o vinho, a bebida é mais do que uma mera produção para a subsistência, mas uma tradição milenar e cultural que confere identidade, que dá significado a própria vida. Em muitas comunidades ainda hoje é possível ver a forma tradicional de se fazer vinho. Os trabalhadores acordam cedo e seguem para o campo. Examinam as videiras, buscam por doenças e as amarram em brotos, que se desprendem um a um pouco tempo depois. Cuidam do solo, rezam para que o clima ajude na colheita. Após a colheita, esmagam as uvas com os pés descalços. O mosto, ou suco de uva, segue para tanques enormes. Depois disso, começa o processo de fermentação e a paciência de espera, até que a bebida esteja pronta para o consumo. A colheita é uma época feliz.
Para celebrar o momento da colheita, algumas cidades também continuam celebrando como no passado. Organizam-se grandes festa públicas. Nelas, os produtores dividem com a população local uma parte da produção, mesmo sem o processo de fermentação ter sido concluído. Mas todos bebem felizmente o vinho pelas ruas. É a tradição que continua valendo por ali.
O vinho, portanto, é bebida que respira história. Em tempos de paz, em tempos de guerra, poucos produtos culturais foram tão valorizados e cultivados como parte de algo que transcende o tempo e a memória.
Fonte: Café História
eu gosto muito de vinho! Pena que a ressaca é foda.
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