Os Correios são lucrativos e, nos últimos 20 anos, repassaram 73% dos resultados positivos acumulados ao seu único acionista, o governo federal. Os números reforçam que vender a empresa é um erro. Entre 2001 e 2020, foram 16 anos de lucro e quatro de prejuízo. No total, a empresa acumula resultado líquido positivo de R$ 12,4 bilhões em valores atualizados pelo IPCA, e repassou R$ 9 bilhões em dividendos nesse período. A União recebeu dividendos dos Correios por 12 anos seguidos, de 2002 a 2013.
Correios não dependem mais do Tesouro
Os Correios não são dependentes do Tesouro. Isso significa que a estatal se mantém com os próprios recursos, sem precisar de aportes frequentes de dinheiro público para fechar as contas. Nos últimos 20 anos, há registro de um aporte feito pelo Tesouro para aumento de capital da empresa. Em valores atualizados, foram R$ 254 milhões em 2018 —o que representa 2% do total de dividendos que os Correios distribuíram à União no período.
Comparação com outras estatais
Os lucros dos Correios são pequenos se comparados às maiores estatais brasileiras. O Banco do Brasil, por exemplo, lucrou R$ 13,9 bilhões apenas em 2020, ano em que distribuiu R$ 2,1 bihões de dividendos ao Tesouro. Mas os retornos dos Correios são grandes em relação ao valor investido na empresa. Segundo o último Boletim das Participações Societárias da União, com dados de 2018, os Correios tiveram o terceiro melhor desempenho em retorno sobre o patrimônio líquido (69,5%), à frente da Caixa (37%), do Banco do Brasil (18,1%), do BNDES (16,9%), da Eletrobras (15,1%) e da Petrobras (13,6%).
Papel do Estado é lucrar?
Sérgio Lazzarini, doutor em administração e professor do Insper, "O papel do Estado não é lucrar, mas investir em áreas de interesse público que têm retorno social, como saúde, educação e saneamento", afirmou.
Privatizar é 'vender almoço para comprar janta', diz economista
Segundo Marcio Pochmann, doutor em economia e professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas/SP), o governo quer vender empresas lucrativas para fazer caixa, algo que só interessa a quem está no poder. O governo não tem um projeto de país. Estamos vivendo o 'presentismo', vendendo o almoço para comprar o jantar. Estamos cancelando o futuro.
O economista afirma que não há comprovação de que vender empresas diminua a dívida pública e renda bons resultados a longo prazo. Ele defende que a economia precisa ser híbrida, com o Estado atuando em áreas nas quais a iniciativa privada é insuficiente. Se a estatal for lucrativa, tanto melhor, mas esse não é o principal fator a ser observado.
No caso dos Correios, o investimento público seria necessário para garantir a entrega de correspondências em todo o território nacional a preços acessíveis. De acordo com Pochmann, a ideia de que o setor privado é mais eficiente do que o público foi por água abaixo após a crise internacional de 2008, quando governos tiveram que injetar bilhões de dólares para salvar empresas.
Empresa está se valorizando, dizem funcionários
Para Marcos Cesar Silva, vice-presidente da Adcap (Associação dos Profissionais dos Correios), além de a estatal ser lucrativa, ela está se valorizando. Isso porque, apesar da queda de procura por correspondências, o setor de logística cresceu durante a pandemia, e os Correios têm estrutura para atuar em todo o Brasil — uma vantagem sobre a concorrência.
Silva, que também é ex-representante dos funcionários no Conselho de Administração dos Correios, afirma que os prejuízos acumulados entre 2013 e 2016 aconteceram principalmente por causa de uma mudança contábil que obrigou a empresa a garantir mais recursos para futuras aposentadorias. "Os estudos para a privatização dos Correios são enviesados, para confirmar o que o governo já queria", diz Silva. Ele alega que a venda da estatal atende somente a interesses de pessoas que pretendem se apropriar de uma empresa lucrativa.
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