Surpresa. Mandela não é santo

Escrito por Fábio Zanini


A literatura sobre Nelson Mandela é vasta, mas sempre aparece uma obra nova desmentindo a idéia de que tudo já foi dito sobre o mito sul-africano.
Após sair da prisão, em 1990, Mandela escreveu “Longo Caminho para a Liberdade”, uma autobiografia de prender a leitura, mas um tanto “seca” demais no estilo. Compreensível. Era a obra de alguém que ainda estava imerso na realidade cotidiana da política.
Um segundo volume, englobando seus cinco anos como presidente (1994-99) sul-africano, foi prometido por ele, mas nunca cumprido. Para suprir parte desse compromisso, está saindo agora “Conversations with Myself” (Conversas comigo), que na realidade não chega a ser uma autobiografia. É uma coleção de cartas, textos e depoimentos inéditos de Mandela, publicados com sua autorização.Há ali algo que não deveria ser uma surpresa, mas, tendo em vista a pessoa de quem estamos falando, acaba sendo. Mandela é um ser humano.Num acesso de fúria, temos o santificado Mandela admitindo que torceu o braço de sua primeira mulher, Evelyn, durante uma briga. Louco de desejo sexual, ele se lamenta por não ter sua segunda mulher, Winnie, ao lado na cama (e resignado com as escapadas amorosas dela). Pai ausente, culpa-se pelo sofrimento causado a seus filhos pequenos.


Aos 92 anos, Nelson Mandela sabe que não tem mais muito tempo. Não está doente, mas apresenta sinais visíveis da idade. Tem enorme dificuldade de andar e escuta muito mal.Mas continua lúcido e teme pelo que virá após sua morte. Ainda hoje, é um ponto de união num país profundamente clivado racialmente. A África do Sul não vai explodir em chamas depois que Mandela se for, mas a harmonia racial levará um baque.Mais do que isso, algo feio pode acontecer em torno de sua imagem. Mandela é uma marca mundial das mais poderosas. Seus interesses são guardados ferozmente pela direção da fundação que leva seu nome.Ferozmente e com mão pesada. É virtualmente impossível fazer qualquer referência comercial a Mandela (mesmo uma inocente pintura) sem autorização de pessoas que se sentem donas dele. Mandela significa dinheiro, e seria uma cruel ironia histórica que a figura do libertador virasse um cabo de guerra econômico. Talvez com isso em mente, Nelson Mandela esteja, nesse livro, dando uma última contribuição à África do Sul. “Dessantizar-se” um pouco, mostrando-se no fundo apenas um ser humano cheio de defeitos e aflições, pode ajudar o país a superar o inevitável trauma de sua morte.


Fonte:penaafrica.folha.blog.uol.com.br

Comentários

  1. Saudações, gostei muito de seu trabalho em suas postagens, também possuo um blog voltado para a História: http://www.construindohistoriahoje.blogspot.com/

    Valeu,
    Leandro CHH

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