Pessoas que viraram palavras

por Leandro Narloch

Já imaginou se você deixasse à humanidade uma palavra derivada de si mesmo? No caso dos políticos, “malufagem” poderia ser uma derrapada ao lidar com o erário público, e “lular” seria tropeçar no vernáculo. Segundo o lingüista John Schmitz, da Unicamp, existem na língua portuguesa quase mil palavras derivadas do nome de pessoas. Esse tipo de vocábulo também tem nome: epônimos. “A maioria está concentrada no vocabulário médico e científico, como ‘mal de Parkinson’, ou em avanços tecnológicos”, diz Schmitz. Abaixo, veja algumas marcas que figuras históricas deixaram em nossa língua.

Meu nome está no Aurélio
Grandes obras egrandes mentiras criaram alguns termos do dicionário

Filipeta na cadeia
Esse panfleto mais sofisticado surgiu de um estelionato. Em 1952, o capitão de reserva Luis Felipe espalhou anúncios por todo o Rio de Janeiro anunciando: “Dobre seu dinheiro em três meses”. Quem lhe desse uma quantia a receberia em dobro meses depois. Quando a polícia descobriu que se tratava de pura tramóia, acabou com o negócio e levou Felipe preso, difundindo seu nome pela cidade.

Gumercindo à Beça
Em 1903, depois que o Acre foi reincorporado ao Brasil, seus habitantes lutavam para que ele não fosse anexado ao estado do Amazonas. Para defender os interesses dos acreanos, foi chamado o advogado alagoano Gumercindo Bessa. “Ele apresentou argumentos tão esmagadores e numerosos em favor da separação que logo se tornou figura respeitada nos meios forenses”, diz Raimundo Magalhães Júnior, em seu Dicionário de Provérbios. O Acre acabou independente e o sobrenome de Gumercindo virou sinônimo de fartura.

Juiz L.A.R.Ápio
Uma das hipóteses para o surgimento dessa palavra vem da República romana (509-31 a.C.). Na época, os pretores eram os magistrados com mais poder em mãos. Reza a lenda que um deles, Lucius Antonius Rufus Appius, decidia suas sentenças a favor de quem melhor lhe subornasse. O juiz acabou cunhando a palavra “larápio”, derivada de sua assinatura: L. A. R. Appius.

Algarismo muçulmano
Durante o esplendor cultural e científico de Bagdá nos séculos 8 e 9, o matemático e astrônomo Abu Ja’far Mohamed ibn Musa al-Khwarizmi (780-850) criou nada menos que o sistema de numeração decimal e os dez símbolos numéricos que são usados até hoje. O sobrenome do grande sábio muçulmano – Al-Khwarizmi – resultou no substantivo para designar os símbolos numéricos: “algarismo”. E a penúltima palavra do título de sua obra-prima, o livro Al-Kitab al-mukhtasar fi hisab al-jabr wa’l muqabala, originou a palavra “álgebra”.

Boicotem o Charles
A primeira vítima de um ato coletivo de negação foi Charles Cunningham Boycott (1832-1897). Administrador de terras irlandesas, ele era tão rígido com os camponeses que eles resolveram se unir e recusar suas ofertas de trabalho. Boycott acabou demitido e seu nome passou a designar o protesto que virou moda em todo o mundo a partir do fim do século 19.

O mausoléu do Mausolus
A palavra “mausoléu” surgiu com o soberano Mausolus, governador da Cária, parte do império persa e atual sudoeste da Turquia. Pouco antes de morrer, ele mandou construir um monumento fúnebre para si mesmo. A obra só foi terminada depois de sua morte, em 353 a.C., sob o comando de sua mulher, Artemisa. Com quatro andares e dezenas de colunas e esculturas de mármore, foi considerada uma das sete maravilhas do mundo, recebendo o nome da cidade onde foi erguida: Mausoléu de Halicarnasso.

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